quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Preços de Fretes Rodoviários no Brasil

Por Maria Fernanda Hijjar

O Brasil é um país fortemente voltado para o uso do modal rodoviário,
conseqüência das baixas restrições para operação e dos longos anos de priorização
deste modal nos restritos investimentos do governo. O cenário de elevada oferta,
poucas exigências para operação e baixa fiscalização levou à redução da qualidade
dos serviços prestados e deprimiu os preços do frete por caminhão.
Este diagnóstico do mercado de transporte rodoviário de cargas no Brasil tem
contribuído para o direcionamento de políticas públicas que disciplinam o setor,
além de alertar os gestores das empresas contratantes de transporte rodoviário para
os riscos de um colapso no sistema.


Entretanto, para os usuários de serviços de transporte de carga, a informação
de que os preços médios do frete no Brasil estão achatados não é suficiente para a
definição de suas políticas de contratação. Tampouco significa que não existem
oportunidades para as empresas embarcadoras reduzirem custos.


Os gerentes responsáveis pela contratação de transporte rodoviário precisam
estar sempre atentos à eficiência na operação interna da empresa e aos parâmetros
do mercado. Neste sentido, é essencial a análise detalhada dos fretes pagos nas
diferentes rotas praticadas. É também importante a análise dos preços pagos
conforme o tipo de veículo utilizado e a comparação destes fretes com empresas de
perfil semelhante. Cabe ainda aos gestores conhecer os custos cobrados pelo
transportador e compará-los com os preços pagos pelo frete.

Para auxiliar as empresas a obterem informações sobre o mercado de
transportes rodoviários no Brasil, o Centro de Estudos em Logística – CEL/Coppead
realiza periodicamente o Painel de Fretes1. Este levantamento tem como objetivo
comparar preços de frete em diferentes rotas e perfis. As informações são fornecidas
pelas empresas industriais contratantes de transporte.

Além das comparações com dados reais de preço pago pelas empresas, são
calculadas, de forma teórica, as tarifas referenciais de frete para cada perfil de
transporte. O valor é baseado nos custos cobrados pelos transportadores para
movimentar a carga.

A seguir serão apresentados alguns dos resultados do levantamento.

Preços pagos nas diferentes rotas

As regiões com maior demanda por serviços de transporte em geral possuem
os preços de frete mais caros. Por sua vez, regiões que aproveitam o retorno dos
caminhões às cidades de origem, após terem realizado suas entregas, obtêm
descontos bastante significativos, mantendo uma média de preços mais baixa.

Um dos resultados obtidos com o Painel de Fretes aponta as variações entre
os preços médios do frete em diferentes regiões do país. Rotas com origem em São
Paulo, por exemplo, costumam ser mais caras do que rotas que se destinam a este
estado. O preço pago pela movimentação de cargas do Rio de Janeiro para São
Paulo é, em média, 34% mais baixo do que na direção inversa. Entre as empresas
participantes do estudo, o valor médio do frete rodoviário de uma carreta fechada
levando carga seca foi de R$ 137/mil ton/km na direção São Paulo-Rio de Janeiro,
contra R$ 91/mil ton/km na direção oposta

Este mesmo fenômeno acontece nas rotas de mesmo perfil entre São Paulo,
Minas Gerais e Paraná. No primeiro caso, o valor médio das rotas entre São Paulo e
Minas Gerais é de R$ 124/mil ton/km, sendo a volta 18% mais barata. No segundo
caso, os embarcadores pagam em média R$ 132/mil ton/km para levar cargas secas
em uma carreta fechada de São Paulo ao Paraná, enquanto o retorno é 19% mais
barato.
Fonte: Painel de Fretes – CEL/COPPEAD (2006)



Esta informação pode ser utilizada em pelo menos dois tipos de ação, uma de
curto e outra de longo prazo, cujos resultados podem culminar na redução dos
custos logísticos das empresas.

A análise de curto prazo aponta para a possibilidade de redução da ociosidade
dos caminhões nas rotas de retorno e, conseqüentemente, de diminuição dos custos
de frete. É papel dos responsáveis pelo gerenciamento de transporte das empresas
embarcadoras e das transportadoras criar parcerias com indústrias locais
interessadas em utilizar a disponibilidade dos caminhões nas rotas de menor fluxo.

Por sua vez, a informação sobre o preço de frete nas diferentes rotas sugere
que, no longo prazo, a empresa pode revisar a sua malha logística de modo a
aproveitar os possíveis ganhos e reduções de custos com frete. É claro que um
estudo para remodelagem da rede logística de uma empresa, envolvendo localização
de fábricas e armazéns, é influenciado por vários outros parâmetros além do preço
do frete rodoviário. Entretanto, a informação sobre o custo das rotas é essencial para
o cálculo do custo logístico total nos diferentes cenários de reestruturação da rede
logística.

Preços pagos conforme o tipo de veículo

O perfil da frota de caminhões utilizada para transporte de cargas é um
componente importante na formação do preço do frete rodoviário.
Comparado ao transporte por carreta, o preço do frete para empresas que
utilizam caminhão truck é 15% mais alto. Por sua vez, um rodotrem, com o dobro
da capacidade da carreta, em geral mantém preços de frete 15% mais baixos.

A pesquisa realizada pelo CEL/Coppead identificou que, para rotas acima de
200 km, empresas que utilizam rodotrem pagam em média R$ 82/mil ton/km; o
bitrem, por sua vez, apresentou um preço médio de frete de R$ 88/mil ton/km. O
transporte nesses dois tipos de veículos é mais barato do que nas carretas que,
considerando a média de todas as rotas realizadas no país, apresentaram valor médio
de R$ 97 para transportar uma tonelada por mil quilômetros.

Assim, quanto maior o veículo, maior será a consolidação de carga e,
conseqüentemente, maior será o ganho de escala no transporte das mercadorias. Os
custos de aquisição e manutenção dos caminhões maiores, embora também sejam
mais elevados, são compensados pelo maior volume de carga transportada numa
mesma viagem.
Os preços de frete se tornam, portanto, proporcionalmente menores.
Quanto a veículos truck ou toco, no Brasil o preço de frete custa, em média,
mais de cem reais para se transportar uma tonelada por mil quilômetros.


Preços pagos x preços teóricos

De forma geral, as grandes empresas contratantes de serviços de transporte no
Brasil possuem um poder de barganha e uma força de negociação alta em relação
aos seus transportadores, especialmente os de menor porte, que atuam em um
mercado de elevada concorrência.

Essas embarcadoras desempenham um papel importante na modelagem do
perfil do mercado de transporte de cargas no país. Se as grandes indústrias
pressionam seus transportadores por preços baixos, em detrimento da qualidade do
serviço, será assim o modelo deste mercado. Por sua vez, se as exigências por
melhores serviços aumentarem, a pressão por redução de preços provavelmente será
menos representativa e o transporte rodoviário poderá melhorar em termos de
qualidade e segurança.

Tarifas Médias de Frete Rodoviário por Veículo


Vale ressaltar, entretanto, que o crescimento econômico do país tem
aumentado a demanda por transportes. Isto significa que se não houver oferta
suficiente, tanto no transporte rodoviário quanto nos modais alternativos, pode
ocorrer uma pressão pela elevação dos preços de frete.

Assim, é imprescindível que as empresas monitorem os fretes pagos no
mercado. Os gestores das empresas contratantes, por sua vez, não devem se limitar à
busca por redução de preços. Devem analisar as oportunidades de ganho de
eficiência e produtividade através do melhor planejamento da ocupação dos veículos
e da melhor definição do perfil da frota utilizada, entre outras ações gerenciais que
possam alcançar reduções na conta fretes, com base na redução dos custos e
otimização da malha.

Analisando-se os preços atuais dos fretes no Brasil sob a ótica dos
transportadores, observa-se o motivo das reclamações desses prestadores de serviço,
que alegam que os preços estão deprimidos.
A Figura 3 mostra a comparação entre os preços reais cobrados no mercado e
as tarifas referenciais (calculadas utilizando-se alguns parâmetros pré-definidos pelo
CEL/Copeead2) que seriam necessárias para cobrir todos os custos e garantir uma
margem de ganho para o transportador.

Importante: estes parâmetros foram utilizados apenas para construção deste exemplo; cada empresa possui características distintas e parâmetros próprios.

No caso do transporte de carga seca por veículos tipo truck e carreta
graneleira/carga seca, o preço médio pago pelo frete no Brasil é mais baixo do que
as tarifas referenciais teóricas calculadas. Este perfil de transporte geralmente possui
forte presença de caminhoneiros autônomos, principalmente na movimentação de
cargas por distâncias mais longas.

O preço abaixo da tarifa referencial significa que a margem do transportador
está reduzida e/ou que nem todos os custos do transporte estão sendo remunerados
de forma adequada. Este cenário traz redução da qualidade do serviço de transporte.
Por sua vez, a movimentação de carga seca em carretas baú ou sider tem
remuneração mais alta. Neste mercado, as distâncias percorridas são menores e a
presença de caminhoneiros autônomos é mais restrita.

Preços pagos conforme o tipo de contratação

Corroborando com as análises realizadas anteriormente, identifica-se que as
empresas usuárias de serviços de transporte que têm como política contratar
caminhoneiros autônomos pagam, em média, um valor mais baixo pelos fretes.
As duas curvas de frete apresentadas na Figura 4 resumem os preços pagos
em R$/ton para diferentes distâncias percorridas.
Elas foram calculadas com informações fornecidas por empresas contratantes de serviços de transporte.

A reta de menor inclinação é a que apresenta os preços mais baixos. Ela
engloba as empresas que têm como política utilizar autônomos em parte ou na
totalidade das movimentações realizadas. Por sua vez, a reta mais inclinada foi
calculada com os parâmetros das empresas que não utilizam autônomos no
transporte de suas cargas.



A escolha do perfil dos transportadores a serem utilizados depende de cada
empresa. Essas escolhas podem ter impacto nos níveis de serviço prestados e nos
custos. É papel dos gestores definir quais os parâmetros de eficiência desejados e
calcular os custos totais de cada perfil de transportador.

Vale ressaltar que os custos totais não são apenas os preços pagos pelo frete, pois os custos com o gerenciamento dos prestadores de serviço contratados também devem ser incluídos.
Em geral, empresas que trabalham com contratações spot e transportadores
autônomos reduzem os preços de frete e aumentam os custos com gerenciamento.
É preciso avaliar, ainda, as oportunidades de melhor aproveitamento dos
veículos em cada perfil utilizado, ações que no médio prazo poderão reduzir os
custos totais de transporte rodoviário.

Considerações finais

Os fretes rodoviários são um componente importante dos custos logísticos das
empresas industriais. Os executivos responsáveis pela gestão de transporte devem
acompanhar regularmente tanto os preços pagos pelo frete quanto os custos
praticados pelos prestadores de serviço. Cabe ainda a tais gestores identificar
oportunidades de reestruturações que aumentem a eficiência e reduzam o custo total.

Como os preços são ditados pelo mercado, é preciso que os gestores
mantenham-se informados sobre as tendências do segmento, comparando os preços
pagos com os de outras empresas que contratam o mesmo perfil de transporte. Vale
ressaltar que as oportunidades de redução de custos no transporte não estão apenas
no controle dos preços de fretes, mas na melhor gestão do uso dos ativos e dos
serviços, mesmo que a operação de transporte seja terceirizada.

Ao mesmo tempo em que os gestores têm como desafio não pagar mais caro
do que a prática do mercado, também devem garantir um padrão mínimo de
qualidade e segurança no transporte.

Por sua vez, é papel do governo prover infra-estrutura necessária para garantir
a oferta de transportes em todos os modais, permitindo a sustentabilidade do
crescimento econômico sem impacto nos custos logísticos das empresas.

Bibliografia recomendada

CEL/COPPEAD. Panorama Logístico – Gerenciamento do Transporte Rodoviário
de Cargas – Práticas e Tendências. Relatório de Pesquisa, 2007.
FIGUEIREDO, K. F.; FLEURY, P. F; WANKE, P. F. Logística e gerenciamento da
cadeia de suprimentos: planejamento do fluxo de produtos e dos recursos. São
Paulo: Editora Atlas, 2003.

Maria Fernanda Hijjar é pesquisadora do Centro de Estudos em Logística CEL/Coppead

1 Empresas contratantes de transporte rodoviário podem participar do Painel de Fretes
CEL/Coppead comparando seus fretes com os das demais empresas participantes do grupo. Mais
informações no site: www.centrodelogistica.org.br
2 Cada empresa possui suas especificidades, de forma que a tarifa referencial pode variar em
função dos parâmetros de cada uma delas. O CEL desenvolveu uma ferramenta automatizada que
possibilita a alteração dos custos dos transportadores utilizados para cálculo das tarifas de frete
referenciais teóricas. Assim, é possível adequar os parâmetros ao perfil de cada empresa. Neste
artigo, foram utilizados alguns dos parâmetros típicos de empresas transportadoras atuantes no
mercado brasileiro.

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